*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
 

 

 

 

 

 

 

 

 

Testamento de niño callejero

Valeriano Luiz da Silva

Soy niño del dolor
Sin protector o tutor
Soy niño torpe
Y también sin juicio


Como vivo a la intemperie
Calentado por el viento
Busco en el tambor mi sustento
A  veces allá está seguro mi alimento

 Espero que en la ley sea aceptado
Que yo deje mis parcos bienes
Para cierto miserable
Pues no tengo un responsable

Mis bienes estarían protegidos
Si yo tuviera un protector
Lo mismo después de yo haber muerto
Serían cuidados por el mismo o tutor

 Como un menor fui a hacer mi testamento
Con un abogado fui a buscar asesoramiento
Pero el doctor fue violento
Halló que yo era ladrón en su pensamiento

Yo  fui muy travieso
Batí carteras en las esquinas
Morir a cualquier hora es mi sino
Ya voy a la notaría ver lo que la ley determina

 Iré a buscar el notario
Llevo conmigo la relación
De los bienes adquiridos en la peregrinación
Pero no tengo de ellos documentación

Dejo mi testamento...
Para el pueblito Zé 
sin alimento
El primero de la relación es la lluvia y el viento
Siguiendo viene el sol, la luna y el firmamento...

Al viejo predio descubierto
La Fuente de agua de la Plaza, Zé Alberto
Mi lata vacía de marrón glacê
Mi vidrio vacío de aceite dendê

 La lata fue mi plato a la hora de comer
Y el vidrio fue mi vaso en la hora de beber
Dejo un lote lleno de matas que da miedo ver
Donde entre culebras y ratones  dormía hasta amanecer

Dejo el viejo zapato deportivo taladrado
Que de la casa del rico fue hurtado
Un pedazo de lana, pero no de ganado,
Cuyo pedazo de paño fue mi acolchado

 Este testamento es irretractable e irrevocable
Quedan mis llaves en un sobre lacrado
Del soñado automóvil tan deseado
Utopía porque nunca fue comprado.

Macapá – AP, 07/11/04

valerianols@globo.com

www.albumdepoeta.com

 

 

Testamento de menino de rua

 

Valeriano Luiz da Silva

 

Sou menino de dor

Sem tutor ou curador

Sou menino atrapalhado

E também desmiolado

 

Como vivo ao relento

Aquecido pelo vento

Procuro no tambor o meu sustento

Às vezes lá está jogado meu alimento

 

Espero que na lei seja aceitável

Que eu deixe meus parcos bens

Para certo miserável

Pois não tenho um responsável

 

Meus bens estariam protegidos

Se eu tivesse curador

Mesmo após eu ter morrido

Seriam cuidados pelo mesmo ou tutor

 

Como um menor fazer testamento

Com um advogado fui buscar ensinamento

Mas o doutor foi violento

Achou que eu era ladrão em seu pensamento

 

Eu que fui muito traquina

Bati carteira nas esquinas

Morrer qualquer hora é minha sina

Já vou ao cartório ver o que a lei determina

 

Irei procurar o tabelião

Levo comigo a relação

Dos bens adquiridos na peregrinação

Mas não tenho deles documentação

 

Deixo meu testamento...

Para o Zé povinho sem alimento

O primeiro da relação é a chuva e o vento

Seguindo vem o sol, a lua e o firmamento...

 

O velho sobrado descoberto

A Fonte dágua da Praça Zé Alberto

Minha lata vazia de marrom glacê

Meu vidro vazio de azeite dendê

 

 

 A lata foi meu prato na hora de comer

E o vidro foi meu copo na hora de beber

Deixo um lote cheio de mato que faz medo ver

Onde entre cobras e ratos eu dormia até amanhecer

 

Fica o velho tênis furado

Que da casa do rico foi furtado

Uma peça de fazenda, mas não de gado,

Cujo pedaço de pano foi meu acolchoado

 

Este testamento é irretratável e irrevogável

Ficam minhas chaves num envelope lacrado

Do sonhado automóvel tão desejável

E do utópico sobrado que nunca foi comprado.

 

Macapá – AP, 07/11/04

valerianols@globo.com

www.albumdepoeta.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



contador gratuito