ALGEMAS PARTIDAS
Humberto Rodrigues Neto


Despedaçar de vez as tuas amarras,
tanto melhor será quanto mais breve
seja a busca do sonho a que te agarras
pra que outro amor teu coração enleve.

Fins de romance... histórias mal escritas
em rabiscos de enredos desiguais,
que nunca chegam a ser bem descritas
nas cenas dos capítulos finais!

Livre, agora, de anseios indecisos,
puseste um basta em tão cruciais dilemas,
e alheia a mentirosos paraísos,
já voltas a sorrir nos teus poemas!

Inda hei de ver, se assim o permitires,
da lua e das estrelas os refolhos
faiscando em tuas retinas quando abrires
a cortina de cílios dos teus olhos!




MIGALHAS
Humberto Rodrigues Neto



Que mais desejas, afinal, que eu faça
pra ter por meu o que de ti não tenho,
se já cansado estou de tanto empenho
de haurir de ti a mais suprema graça?


Há quanto tempo mendigando eu venho
um pouco mais que esta ventura escassa!
Do amor apenas pingos pões-me à taça
que eu sorvo ao jugo de pesado lenho!

Somente a um outro, nas liriais toalhas
da mesa de Eros serves tua paixão,
mesa em que, pródiga, teus bens espalhas!

E ali enjeitado, a farejar o chão,
o meu amor vive a lamber migalhas
que tu lhe atiras qual se fora a um cão!




SAUDADE...

(a minha esposa, in memoriam)

Humberto Rodrigues Neto




Teu desencarne fez-me descontente,
com a alma e o coração sempre em quebranto;
do nosso lar foi embora o antigo encanto
que tu levaste assim... tão de repente!


Do alto onde estás podes sentir o quanto
por ti pranteio ao te sentir ausente,
e nada existe que tão fortemente
me incline à solidão e ao desencanto!


Não mais teus lábios, nem os teus abraços
tentei buscar noutros alheios braços,
preso à paixão que só por ti nutria!


E hoje vergado a esta infelicidade,
a Dor se fez a esposa do meu dia,
 à noite faço amor com a Saudade!

 

 

 

 

 

 

 

 

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