CANTO DE PRIMAVERA

Ariovaldo Cavarzan


Passeio o meu outono
na primavera de tua vida,
sensível às nuanças de cheiros,
claridades, cores e sabores,
a ressumbrar das flores
que enfeitam teu viver.


Inspiro cheiro de rosas,
gerânios, flores-do-campo,
de açucenas e de lírios,
entregando-me ao delírio,
ao recolher restos
desabados no chão,
para tornar perfumados
passados amores,
de idos caminhos percorridos,
em felicidade, carinho e alegria,
e em miríades bem formosas.


Recolho pétalas de lembrança,
despencadas ao chão,
inertes fragmentos de flores,
relembranças de
idealizados amores,
irrealizados ramalhetes,
umedecidos em
furtivas lágrimas de emoção,
feito pedaços liquefeitos,
brotados em fonte
de inexprimível paixão.


Passeio o meu outono
através da tua primavera,
renovando-me também,
qual fênix sem vida,
morta e outra vez renascida,
infensa aos espinhos,
de dores e desatinos,
entregue tão só
a relembranças
do que restou.


Entre o meu outono
e a tua primavera,
glacial e quase-eterno,
insinuou-se o intruso inverno,
mas ainda há canteiros semeados,
também mortos e outra vez revividos,
para enfeitar de luz,
cheiros, flores, cores e ternos amores
o meu coração.


22/09/2010



REPRESENTAÇÕES

Ariovaldo Cavarzan


A mais cintilante estrela do céu,
representa ponto de encontro de tristes olhares amantes,
que se fazem juntar, embora distantes.

Borboletas representam pétalas de flores,
em bailados de anseios e amores.

O luar representa tecido crivado de luzes,
a recobrir sonhos de acalentadas paixões.

Juras de eterno amor representam castelos de areia,
fadados a soçobrar ao primeiro açoite de onda de mar.

Carência de afetos
representa ideais que se queriam perenes,
esboroados ante embates da lida,
em temporais de aflições.

Apertos no peito
representam ausências deixadas,
feito destroços de felicidades não alcançadas.

Juras de amor que se esvaem no tempo,
representam vontades lançadas ao vento,
feito pólem desgarrado de asas de borboletas,
em balés desconexos.

Solidões em noites escuras,
representam impreenchíveis vazios,
feito feridas abertas em busca de curas.

Suspiros de dor,
representam tristezas sem cura,
eis que bordadas em realidades mais duras.

Cumes de inacessíveis montanhas,
postadas além de profundos grotões,
representam saudades,
que têm por morada sensíveis corações.


14/01/2010



A ERA DO AMOR

Ariovaldo Cavarzan



Silenciem-se remorsos e murmúrios de saudade,
eis que é chegada a era da felicidade.

Em lugar de masmorras, semeiem-se jardins,
e onde vicejem dores,
que ressumbrem doces perfumes de amores.

Que suaves augúrios encham o ar,
e arrepios festivos façam vibrar de alegria
almas que se tinham incapazes de amar.

Que se busquem refrigério
em frondosas sombras recortadas no caminho,
e na água fresca brotada em nascentes de fé,
até que o manto estrelado da noite se faça de novo estender,
unificando tudo e restaurando a paz.

Através do tênue fio que se insere entre o sonho e o real,
escorrem paixões, tentando embalar corações acima do bem e do mal.

Perdigueiros aboiam patos em campos de flores,
e despossuídos grafitam guernicas de bonança
em muros esburacados,
ensaiando cenários de banquetes de restos.

Pregoeiros de amanheceres felizes exercem seus misteres,
e já vai longe o barco das perdidas ilusões,
singrando águas calmas em rios de recordações.

Imperioso manter-se em jornada,
a sós ou de mãos dadas,
eis que os riscos se esvaem em desvãos da caminhada,
e já vem perto a hora da chegada.

Um frêmito de realidade faz estancar quixotescos moinhos de vento,
ao olhar aturdido de patifes e heróis.

Árias de regozijo, fazem bailar maledicências e bondades,
feito sonhos transmudados em folhas,
sopradas num mesmo e delicado dançar.

Das entranhas da Terra, do fogo, do ar e das águas do mar,
emergem tempos de verdades,
desfazendo grilhões que aprisionavam irremediáveis vontades.

É chegada, enfim, a doce e ansiada era do amor.


24/03/2010

 

 

 

 

 

 

 

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